quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Nordeste (outras impressões)

Qual o tempo necessário pra conhecer um lugar? Em quanto tempo se faz um amigo? Me pego impressionado com a intensidade e sinceridade com que se dá o relacionamento com recém-conhecidos, tanto as pessoas quanto a cidade. Há pouco mais de uma semana na capital de Pernambuco, essas questões me batem forte enquanto dou pernada no centrão, na caça de bolachas (aquelas de petróleo). Tento o método infalível, melhor que qualquer google maps: sair perguntando na rua; sempre tem alguém que sabe onde encontrar qualquer coisa, bote fé. Encontro, sem dificuldade, um conglomerado de sebos num calçadão. Cerca de vinte barracas com discos e livros, uma colada na outra, sob um teto improvisado e sufocantemente baixo. Roots. Paro no sebo que mais me interessou à primeira vista. Dei sorte, o casal de tiozinhos gostava muito de conversar e, entre uma picuinha e outra com o cônjuge, me indicaram vários discos de brega, dos mais obscuros ao semi-canonizado Reginaldo Rossi. Estava mais na pira de uma guitarrada, cumbia e afins e meu sujar de dedos foi prolífico: saí de lá com exemplares de Aldo Sena e Pinduca, entre outras pérolas.
A cidade é frenética durante o dia, como qualquer outra capital, imagino. Por entre as anciãs e bem sujas ruas, sobre as pontes que cortam o Capibaribe, desviando dos vendedores ambulantes em profusão, em meio à fedentina da cidade erguida sobre o mangue, corre um povo a priori ressabiado e não à toa: estamos numa das capitais mais violentas do país. Mas é à noite, no centro histórico, que a cidade põe à prova sua faceta mais plural. Creio ser a noite mais democrática que já presenciei, seja pela diversidade de estilos musicais tocados, ao vivo ou não, em bares especializados e bem roots, seja pelo fato de que a coisa toda se dá, no fim das contas, na rua, ao ar livre, em meio a brisa fresca que alivia o calor intenso das noites de fim de inverno nordestinas. Vai quem quer, ouve-se o que quiser; numa mesma noite ouvi maracatu, brega, salsa e jazz (!) tocados ao vivo, além de uma jukebox bizarramente eclética num bar defronte onde até outro dia repousava uma estátua de Chico Science. A estátua caiu; ainda estou remoendo a metáfora. Dizem que o lugar é perigoso e que já foi muito mais, antigamente. Eu, de chinela e bolso magro, corro pouco risco, solto na buraqueira Olinda-Recife.

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